Publicado em 12 de maio de 2025
Valor Invest

Veja o que fazer com os seus investimentos após a Selic subir para 14,75% ao ano

A alta dos juros pode ter sido a última desse ciclo de aumento. Nesse ambiente, especialmente os investimentos de renda fixa que acompanham a inflação seguem sendo os mais indicados pelos economistas. Alguns aconselham ainda elevar a alocação em ações brasileiras.

A alta dos juros de referência, a Selic, para 14,75% ao ano, o maior nível desde 2006, pode ter sido a última desse ciclo de aumento. Com a chance dos cortes iniciarem neste ano, especialmente os investimentos de renda fixa que acompanham a inflação são os mais indicados pelos economistas entre os investimentos de renda fixa. Alguns aconselham ainda elevar a alocação em ações brasileiras, já prevendo que a bolsa se beneficiará do corte de juros, mas essa recomendação não é consenso.

O Copom deixou a sua próxima decisão em aberto na comunicação desta quarta-feira, o que significa que ele pode aumentar os juros ou não. Apesar da dúvida, é praticamente consenso que o ciclo de alta está acabando. A expectativa é que os juros sejam mantidos no nível de 14,75% ao ano ou aumentem, no máximo, 0,25 ponto percentual, para o patamar de 15% ao ano, no encontro de junho.

Ainda que a inflação requeira cautela do Banco Central para começar a cortar os juros, as incertezas causadas pela guerra tarifária promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estão ganhando peso nas análises dos economistas. Caso a atividade econômica global recue como o previsto, isso abre espaço para os juros serem menores nos Estados Unidos e no Brasil, onde as taxas podem começar a cair neste ano ainda.

A projeção mediana dos economistas para os juros no final de 2025 caiu de 15% para 14,75% no Boletim Focus desta semana, apresentado antes da comunicação do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira (7). Já a previsão para a Selic para o fim de 2026 continuou em 12,50% ao ano. Bancos como Bradesco, J.P Morgan e Safra veem espaço para corte neste ano ainda.

Caso os juros recuem, os títulos de renda fixa que acompanham o CDI (que anda colado na Selic) ou a própria Selic terão retorno menor. É o caso dos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), dos papéis do Tesouro Direto indexados à Selic (Tesouro Selic) e dos fundos DI (que compram esses papéis de risco baixo). Ainda, é o caso das Letras de Crédito Agrícola e Imobiliário (LCAs e LCIs), que acabam dando maiores rentabilidades por serem isentas de Imposto de Renda.

Contudo, os investidores precisam ter em mente que, mesmo caindo, os juros seguirão em dois dígitos por um longo período ainda e que essas aplicações continuarão tendo valor. Elas servem principalmente para guardar um dinheiro para as surpresas da vida, a reserva de emergência (com exceção das LCAs e LCIs, que não são recomendadas para a reserva de emergência porque o dinheiro demora meses para poder ser resgatado).

“Os papéis pós-fixados seguirão com um retorno excepcional, sendo a alternativa mais interessante pensando nos próximos seis meses ou um ano. Não veremos os juros caindo drasticamente em 2025, nem um ciclo de cortes expressivo em 2026”, afirma Cristian Pelizza, economista-chefe da Nippur Finance.

Até agora, era difícil outros investimentos baterem o CDI e a Selic, e pode ser que esses indicadores continuem sendo as estrelas dos investimentos por um tempo. Contudo, o começo de cortes de juros tende a levar a um aumento da diversificação dos investimentos para ter rendimentos melhores.Pensando em investimentos de longo prazo, os títulos do Tesouro Direto que acompanham a inflação (Tesouro IPCA+) são os investimentos mais recomendados neste momento, os “sem erro”. Esses títulos estão pagando menos do que há alguns meses, mas estão com remunerações muito atrativas ainda: inflação mais perto de 7% ao ano.

Caso fique mais claro que os juros serão reduzidos, as taxas desses títulos recuarão mais ainda e o investidor perderá a chance de aproveitá-las altas assim. Já se a inflação acelerar e os juros não recuarem como o previsto, o investidor desse papel estará protegido contra a inflação.

“Vivemos o fim de um ciclo de aumento de juros e, normalmente nesses momentos, os investidores devem começar a aplicar mais nos papéis que acompanham a inflação, tendo em vista que as taxas estão muito altas”, afirma Thomás Gibertoni, sócio e gestor de patrimônio da Portofino Multi Family Office.

“Os papéis que acompanham a inflação são os investimentos mais atrativos atualmente, com o Brasil sendo um dos únicos países que garante de graça essa proteção aos investidores”, diz.

Apesar da inflação parecer mais controlada, Gibertoni gosta mais dos papéis que acompanham a inflação do que os prefixados, que pagam um juro fixado na compra. Na análise dele, os juros dos papéis prefixados não estão tão altos assim para compensar o risco de o governo gastar mais do que deve em 2026, ano de eleição, e isso levar a inflação a acelerar e os juros a serem mantidos maiores do que o esperado.

“Para investir em papéis prefixados, a credibilidade do Brasil deve ser maior. Como a questão fiscal ainda não foi endereçada de forma suficiente, prefiro os papéis que acompanham a inflação”, afirma.

Os títulos prefixados estão pagando juros de quase 14% ao ano, mas caso a inflação volte a acelerar e os juros não recuem como o previsto, o investidor ficaria preso em um título que pode pagar menos que a inflação e a Selic. Por isso, a maioria dos economistas desaconselha comprar papéis prefixados neste momento.“Para o investimento em papéis prefixados dar certo, o governo precisaria fazer um ajuste fiscal significativo, mas não parece disposto a fazer isso”, afirma Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Investimentos. “Por isso, prefiro os títulos que acompanham a inflação aos prefixados. Se tudo der certo, esses papéis vão se valorizar muito. Já caso a inflação volte a acelerar por causa da questão fiscal, esses papéis protegem mais o investidor”, diz.

Os economistas aconselham ainda cuidar com os papéis de renda fixa emitidos por companhias e bancos desconhecidos, mas que oferecem taxas muito altas. A vida financeira dos bancos e das companhias de menor porte piorou com os juros aumentando e o risco deles darem calote nos investidores está maior. Mesmo com LCIs, LCAs e CDBs sendo cobertos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) até R$ 250 mil por banco, é bom saber que o dinheiro não cai na conta instantaneamente.

O risco é maior ainda nos papéis de renda fixa emitidos pelas companhias (chamados de crédito privado), como os Certificados de Recebíveis Imobiliários e Agrícolas (CRIs e CRAs) e as debêntures, que ficam fora do FGC. Quem quiser investir em crédito privado para ter uma remuneração um pouco maior que o CDI deve fazer isso por meio de fundos de gestores renomados do tipo “high grade”, que compram ativos de companhias de melhor qualidade. Ou, ainda, acessando carteiras recomendadas de renda fixa, elaboradas por corretoras e bancos.

 

É para investir na bolsa agora? Quem sabe…

 

Ainda, alguns economistas indicam investir mais em ações brasileiras neste momento, pensando em aproveitar os descontos nos preços e a valorização que pode continuar neste ano. O Ibovespa já sobe 11% neste ano, com o fluxo vindo da fuga dos Estados Unidos com as confusões de Donald Trump.

A expectativa dos economistas que aconselham aumentar bolsa brasileira na carteira é que esse dinheiro dos EUA seguirá entrando no Brasil e que os cortes de juros também levarão o fluxo para a bolsa a aumentar.

“Penso que é hora de aumentar a alocação em bolsa. Os preços estão em níveis historicamente baixos e as empresas estão mostrando crescimento, até com os altos juros. Com as reduções de juros, as alocações em bolsa devem voltar e ela pode melhorar bastante”, afirma Fontes, da Nord.

“Ainda existem fatores técnicos. A bolsa está sem empresas estreando há três anos, os fundos e os gringos estão com baixa alocação e a China está com demanda reprimida pelas commodities brasileiras. Quando tudo isso destravar, a bolsa brasileira deve melhorar muito a performance”, diz.

Contudo, essa opinião não é um consenso. Alguns economistas preferem esperar ainda para aumentar bolsa brasileira na carteira, considerando que as incertezas nos Estados Unidos podem atrapalhar as ações brasileiras, especialmente se os EUA passarem por uma recessão.

Pelizza, da Nippur Finance, aconselha que os mais arrojados invistam mais em ações brasileiras, mas comprem os papéis aos poucos, sem pressa. “Caso haja uma sinalização mais clara de que os juros vão cair e na eleição venha uma proposta de disciplina fiscal maior, a bolsa deve subir, com o fluxo estrangeiro se encaminhando para o Brasil”, afirma. “Mas se tiver uma recessão mais profunda nos Estados Unidos, os gringos resgatam os recursos dos países emergentes e levam para os países mais seguros”, diz.

Já na análise de Gibertoni, da Portofino, não é momento ainda de aumentar de forma relevante a exposição à bolsa brasileira. “Os preços parecem estar em um nível barato, mas podem continuar baratos ainda por mais tempo, considerando que os juros estão muito altos. Gosto mais do risco dos títulos de renda fixa que acompanham a inflação e menos do risco da bolsa atualmente”, afirma.

 

Vai investir no exterior? Cuidado!

 

Economistas alertam que aplicar nas bolsas dos Estados Unidos terá mais risco nos próximos meses ou anos e que é melhor esperar para aumentar as aplicações no país. A bolsa americana, o dólar e os papéis do Tesouro dos Estados Unidos, conhecidos como os investimentos mais seguros do planeta, estão passando por uma crise de confiança.

Em contrapartida, o conselho é diversificar mais os investimentos no exterior, especialmente na Europa, que tende a ganhar com a fuga dos EUA. Contudo, o conselho não é vender os investimentos americanos para fazer isso. Quem já investiu nos Estados Unidos deve esperar por uma recuperação em prazos mais longos.

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